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sexta-feira, 16 de agosto de 2013

E lá se foi mais um ano.

Aniversário é alguma coisa de intrigante, adorava há uns 30 anos atrás, mas hoje confesso que repenso a euforia. Dividindo a vida em duas etapas distintas, entendi o porquê da falta de vontade de soltar rojões. Na primeira etapa, acreditava que chegar aos 25 seria o ápice, e lá chegando percebi que mal começava a engatinhar pelos caminhos difíceis que se apresentavam diante de mim. Mas vai lá, a disposição era um fenômeno, a alegria era natural, a forma física em seu pleno desabrochamento não deixava margens para preocupações, acreditava de verdade que seria eternamente assim, maravilhoso. Quando cheguei aos 50, percebi que os 25 anos que passaram, bateram o Recorde da velocidade da luz e quando vi tudo aquilo já pertencia ao passado, e preciso admitir que mesmo com os joelhos esfolados, continuo rastejando na trilha de um aprendizado que se mostra eterno. Mas não somos eternos. Então me pergunto, chegarei ao fim sem ter aprendido o começo? Os erros que cometi com 25, só percebi aos 50, mas e daí? Não tem mais como reparar e nem outra vida pra começar tudo direito, então notei que esta segunda etapa da vida servia tão somente para um aprimoramento pessoal. Não tem como mudar o passado, mas tem como crescer com ele. Daí a grande chance que a vida nos dá. Os erros vão servir de ensinamento para as gerações futuras, da mesma forma que os erros de meus pais serviram para que eu reconhecesse os meus e tentasse não passa-los adiante. Se aos 25 éramos jovens, lindos e imbatíveis, aos 50 somos o inverso de tudo isso, mas infinitamente melhores, pois nos tornamos mais humanos, com direitos ao perdão pelos erros cometidos em nome de uma juventude que acreditávamos eterna. Meus filhos já erraram muito, e sei que meus netos também cometerão deslizes, mas tenho fé de que, colhidos os frutos deste aprendizado coletivo, poderemos minimizar o efeito destes erros e transforma-los em vitórias precoces. E se assim não for... Paciência, no ano que vem voltarei para fazer um novo balanço, provavelmente com os cabelos mais brancos e as formas mais imperfeitas, mas em compensação, com uma bagagem bem maior para poder passar adiante ensinamentos mais precisos. Cristiane Campos – artista plástica – 16/08/2013

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O FIM DO MUNDO

É isso ai, o fim do mundo esta próximo, pelo menos aqui na cidade em que eu moro, ele acontece todo ano exatamente nos 21 de dezembro quando se inicia o verão e a temporada de férias na praia... Gente é o fim do mundo mesmo. Você é obrigada a acordar as seis da matina ouvindo todo gênero de musica em um volume que chega a tremer as vidraças, moro ao lado de casas de aluguel. Eles chegam de ônibus fretado, aos montes e todos estudaram na mesma escola e tiveram a mesma educação, nenhuma. Rolo na cama um pouco mais tentando ganhar umas horas preciosas de sono para não acordar completamente azeda, tudo em vão. O estampido das latas de cerveja começa lá pelas oito e até a turma toda sair para a praia já são mais de dez, isso, se o sol der o ar da graça, porque se chover piora, além da musica ensurdecedora e da gritaria, ainda tem a fumaça do churrasco que rola o dia todo regado a muita bebida. Fim do mundo é sair de casa com uma cadeira básica de praia, a sacola de cremes e etc. e tal, caminhar duas quadras e quando chegar à beira-mar, perceber que não há lugar para sua modesta pessoa. A praia esta tomada por vendedores ambulantes, barraca de roupa, milho, pipoca, tatuagem, e se bobear até uma casa de câmbio. É de impressionar. Curiosa, decido ficar e apreciar a paisagem, que é praticamente nenhuma, pois a minha frente existem cinco camadas distintas que me impedem de ver além do meu nariz. Primeiro os carrinhos de milho cozido, pelo menos meia dúzia, depois tem uma gigantesca tenda com todas as ofertas baratas da Zé Paulino penduradas em cabides, colorindo até o olhar de um cego, vendedores de pipa, óculos, lembrançinhas, sanduiche natural. Depois desta, tem ainda pelo menos dois carrinhos de sorvete, dois vendedores de camarão “frito às 4 da manhã”, uma tenda de tatuagem de rena e por fim uma leva de crianças jogando bola, peteca, frescobol e mais sei lá o que... Quer dizer, ver o mar é pura utopia. Muno-me de paciência, passo um protetor, coloco o chapéu, estendo a toalha no chão e finalmente consigo abrir meu livro e tentar abstrair aquela loucura toda. Doce ilusão, antes de chegar à terceira frase, levo uma bolada na cabeça, uma onda de areia se levanta dos pés daquelas criançinhas, e me entopem o nariz. Bem, paciência, vamos tentar novamente, respiro fundo e desisto do livro, decido me sentar e relaxar, mas antes preciso ir ao mar, estou parecendo coxinha de padaria de tanta areia grudada no protetor solar. Dois passos em frente, três ao lado, pulo dois baldes um castelo e piso em uma pazinha de plástico, sigo em frente e com determinação consigo chegar até a água e me refrescar. Na volta desvio da uma dúzia de moças fazendo pose pra fotografia e ainda levo uma raquetada no meio das costas. É o fim do mundo. Pego minhas tralhas e decido voltar para casa achando que a aventura é mais perigosa do que imaginava, neste pouco tempo que permaneci na areia, vi crescer ao meu lado uma montanha de lixo que não estava lá quando fui ao mar, surgiu como por encanto e tinha um tudo. Fico imaginando como estará a minha praia no fim do dia, no fim da temporada, e pior, no fim do verão. Isso sim é o fim do mundo. Cristiane Campos 30/11/2012

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

NESTE NATAL

Neste natal provavelmente não darei muitas risadas, não comerei rabanadas e nem trocarei presentes. Neste natal meu coração esta de luto. Não somente por minhas perdas, mas por todas as perdas do mundo. Neste natal, acho que papai Noel vai ficar inseguro de navegar sobre as cidades grandes, pode ser que uma bala perdida faça dele mais um número nas estatísticas. Neste natal, vou reavaliar o que os Maias diziam sobre o fim do mundo. Por vezes penso que eles não estavam assim tão errados, mas não creio que exista uma data especifica para isso, já vem acontecendo há muito tempo perante nossos olhos e o descaso das autoridades. Pergunto-me, no Natal muitos bandidos receberão indulto, não para estar com a família, pois não creio que algum deles dê importância ao sofrimento de uma mãe ou de um filho. Mas estarão nas ruas para dar continuidade à série de violência que vem assolando nosso país. Este ano o Natal perdeu um pouco do encanto, não saberemos ao certo se escutamos tiros ou rojões. Neste natal, muita criança estará faminta, como em tantos outros dias durante todo o ano, e não haverá um milagre que reverta esta situação ou detenha a violência e a falta de solidariedade. Pode ser que todos pensem ao contrário, pode ser... De repente minha dor faz com que eu veja tanta crueldade sem que ela realmente exista. Pode ser que o mundo continue lindo e tranquilo e que as pessoas continuem tendo liberdade de ir e vir na confraternização de uma data tão solidária. Pode ser. Mas eu não acredito. Não consigo acreditar, pois todos os dias quando ligo a TV, o que escuto é completamente diferente do que desejo para um dia de Natal. Este ano, nosso papai Noel deveria ser um homem de cor, pois este foi o único herói que vivos em décadas. Mas mesmo sem a nostalgia dos antigos natais, vou desejar que houvesse verdadeiramente piedade no coração da humanidade. O mundo esta carente de Paz e necessitamos com urgência de uma frota de Papai Noel com muita energia e de preferência com uma mega tecnologia para romper a barreira de tiros e fazer desta nossa gente sofrida, pessoas felizes. Assim SejA. cristiane Campos 26/11/2012

sábado, 17 de novembro de 2012

DESAPEGO

A palavra já diz tudo, mas não ensina a aplica-la, isso cabe a cada um descobrir métodos para conseguir a difícil missão do desapego. Se a dificuldade em se desapegar de uma roupa antiga já é imensa, imagine conseguir jogar fora sentimentos que nos prendem a um passado que não volta mais. O passado é um grande vilão na arte do desapego, pois estamos sempre remetendo-nos a ele quando decidimos jogar fora alguma coisa que só esta atrapalhando nossa trajetória. Se for uma roupa velha, ficamos com pena de doar na esperança de um dia ainda entrar dentro dela, doce ilusão, tem que ter um bocado de coragem para se desfazer de uma roupa que nunca mais vai nos servir. O que dizer então de tantas outras coisas que entopem nossos pensamentos, nosso tempo e inibem nosso avanço... O seguir adiante Há pouco tempo perdi uma irmã que era a referência em minha vida, e ela tinha esta coisa de ser completamente desapegada de tudo e sempre repetia que deveríamos fazer o mesmo, pedia para que jamais nos apegássemos a nada que fosse dela depois de sua partida. E assim fizemos como foi de sua vontade, foi simples com as coisas materiais, mas impossível com os sentimentos que insistem em permanecer vivos e não se desgrudar de nossos pensamentos um único minuto. Então eu penso, o desapego é simples e complexo ao mesmo tempo, de algumas coisas jamais conseguiremos nos desvencilhar, e de outras fazemos até com certa facilidade. Quanto mais maduros ficamos, mais difícil limpar as gavetas. Quando somos jovens, viramos a página como quem diz bom dia, hoje, lemos e relemos muitas delas sem ter a coragem de seguir com a leitura. É necessário, eu bem sei, aliás, é fundamental a nossa sanidade que façamos esta reciclagem. Já fomos lindas, jovens e cheias de curvas, não admitimos esquecer esta imagem em nossa mente e muitos acabam se isolando por não aceitar as mudanças que o tempo opera, puro apego. Como posso me desapegar daqueles que amei e não fazem mais parte de minha vida? Difícil não? Mas é quase uma equação, não me desapego justamente por ainda permitir que façam parte dela, na sequencia de um passo a passo, para poder viver um presente e pensar em um futuro, primeiro preciso varrer o passado, deixa-lo guardado somente nas mais remotas recordações sem que interfiram nas escolhas atuais. Complicado? É matemática pura A vida é uma sequência de equações complicadas porem exatas. Cristiane Campos 17/11/2012

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Ao Pé da Letra

Já experimentou pegar aleatoriamente uma palavra solta de uma frase qualquer, e analisá-la? Hoje ouvi uma palavra de pouco uso em nosso vocabulário cotidiano, “cercear”, fazia um bocado de tempo que eu não prestava atenção a ela. Cercear que significa restringir, limitar, aparar entre outras, é uma palavra que não temos por hábito pronunciar, mas que esta embrenhada em nosso dia a dia e sem perceber acabamos por fazer parte do contexto de seu significado. Passamos a infância cerceada por nossos pais, crescemos cerceados por nossos professores, entramos na vida adulta cerceada pelo patrão, até encontramos o grande amor e sermos cerceados por ele também, e lá na frente certamente acabaremos cerceados por nossos filhos. Acho que nos acostumamos em ter as asas cortadas em pleno voo, e nem sempre temos escolha, por vezes somos tolhidos por algum infortúnio inesperado, e então, acabamos restritos em nossa liberdade. Uma tristeza, um acidente, uma desilusão, qualquer uma destas coisas entre tantas mais, podem deflagrar uma verdadeira guerra em nosso interior. Culpamos-nos e nos repreendemos por toda nossa desventura, e neste caso nós mesmos acabamos tolhendo nossas expectativas. Desistir é tão mais fácil do que lutar que por vezes negamos o privilégio de vislumbrar qualquer vitória. Mas como toda moeda tem duas faces, eu prefiro acreditar que melhor a ser uma arvore é ser um bonsai. Uma arvore cresce livre e sem limites, mas esta sujeita à ação do clima e dos homens, já o bonsai mesmo sendo rigidamente podado e restrito em seu pequeno espaço, cresce uma planta bela e de uma longevidade única. Concluo que existem casos e casos para a palavra “cercear”, e quanto mais viajo nela, mais admiro a diversidade de nosso vocabulário. Cristiane Campos 13/11/2012

domingo, 24 de abril de 2011

E o tempo perguntou ao tempo... quanto tempo o tempo tem?


Li alguma coisa fabulosa de Mario de Andrade, que dizia o seguinte: “Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.”
Passei alguns dias pensando nesta frase que me caiu como bomba sobre a cabeça que insiste em branquear.  Revi meus conceitos e minha vida, e me dei conta que realmente o tempo é implacável e não se pode reverter nada do que passou, mas certamente ainda resta algum tempo para mudar o que não funcionou.
A grande vantagem que se tem ao chegar nesta etapa da vida é a seguinte: não precisamos mais de nenhum artifício, nenhuma mentira mais convence, somos de uma transparência que somente os anos foram capazes nos dar. É uma nuance que não existe em nenhuma outra paleta a não ser daqueles que já usaram todas as cores tentando camuflar defeitos e ranhuras, e daqui pra diante podemos dar a vida a tonalidade que desejarmos, sem medo de não agradar, sem medo da rejeição.
 Quem não nos aceita como somos, não merece a dádiva de tocar nos fios prateados que contam a nossa história. Não sentirão o frescor das lagrimas que descem pelos vincos de nossa face trazendo consigo tantas experiências vivenciadas.
Somos tesouros prontos a serem desenterrados. Um baú de sabedoria que nenhum corpo jovem e esguio contém.
Se não temos lá muito tempo a nossa frente, temos o passado ha nosso favor.
Somos o salgueiro, a fênix que só emerge depois de finda a última brasa.
Então porque maldizer a velhice?
Temos tudo a nosso favor, uma liberdade que a mocidade jamais contemplou.
Mario de Andrade ainda diz: “As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos. Quero a essência, minha alma tem pressa...”
O tempo agora urge, não dá mais para esperar pelos acontecimentos, é necessário antecipá-los e vive-los.
O que encanta nisso tudo, é poder falar dos meus cinqüenta anos sem nenhum pudor, sem nenhum receio.
É poder olhar os meus netos e saber que ainda tenho energia o bastante para ensinar a eles que a vida só vai valer a pena no dia em que as ilusões forem substituídas por fios de cabelos brancos em suas cabeças. Daí sim eles saberão que a vida esta para começar.  

 Cristiane Campos  Abril/2011

segunda-feira, 28 de março de 2011

MUDANÇA E MUDANÇAS


Assim diz um dicionário virtual sobre a palavra mudança: “Uma mudança ou transformação pressupõe uma alteração de um estado, modelo ou situação anterior, para um estado, modelo ou situação futuros, por razões inesperadas e incontroláveis, ou por razões planejadas e premeditadas.”
Definir uma mudança é como reescrever uma história, só que jogando fora o rascunho.
Depois de viver por longo tempo situações impostas pela vida, e de difícil transformação, encontramos em uma mudança as soluções para uma total reformulação de vida, estilo, pensamentos e atitudes.
Pode parecer estranho, mas na verdade é mais fácil operar mudanças, quando nos mudamos.
Quando saímos daquele velho ninho impregnado de lembranças nem sempre boas, vislumbramos a possibilidade de um novo começo, é como passar a limpo uma redação cheia de rasuras. A gente limpa o texto, mas o conteúdo estará intacto.
Sinto-me como uma cigarra que larga o exoesqueleto (esqueleto externo) para poder crescer.  Assim classifico qualquer mudança na vida, quer seja da casca ou do interior, todas elas vem para o crescimento.
Passei toda minha infância e parte da adolescência vivendo em uma única casa, até me casar e constituir meu próprio lar, aquela casa era toda a referência de segurança que eu havia aprendido a conhecer. Sempre que algo me abalava era para ela que eu corria em busca de segurança, até que meus pais se mudaram, e aquela imagem desapareceu, e aos poucos percebi que necessitava criar minhas próprias defesas, reforçar os meus alicerces.
O tempo desgasta absolutamente tudo nesta vida, se não somos um caco de vidro, significa que aos poucos iremos nos deteriorar.
A juventude passa, os amores se vão os casamentos acabam. Os filhos se casam, os netos chegam e a nossa velha casca já desgastada pelo tempo grita por mudanças. É preciso crescer, mesmo que nossos corpos já comecem a encurvar, ainda assim cada vez mais necessitamos de espaço.
Se crescer dói, envelhecer arde e o único bálsamo para enfrentar as novas etapas da vida é operando mudanças radicais. Saindo da mesmice com a qual nos acomodamos e buscando novos rumos para ter ao menos qualidade de vida. Mesmo que o coração tenha sido ferido, mesmo que as esperanças tenham sido perdidas é melhor mudar tudo que esteja a seu alcance do que vegetar em um mundo que não te pertence mais.
Uma nova casa sem velhas lembranças é isso que espero encontrar nesta nova etapa da vida.
Como bem dizia nosso sábio Chico Xavier: “Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.
Cristiane Campos   -  Março de 2011