CHEGA DE TV

É uma coisa inacreditável como a modernidade estraga o meu humor.
Levanto bem cedo, antes de o marido ligar o noticiário, para não ter que abrir os olhos vendo as barbáries do dia anterior.
Depois de lavar o rosto de olhos fechados é claro, pra não piorar o humor, vou para a cozinha, é quinta feira dia da faxineira.
Mal entro e lá esta ela com o radio ligado ouvindo mais desgraça.
Respiro fundo, porque as boas auxiliares domésticas andam raras atualmente, tomo meu café e vou para o ateliê, pelo menos ali ainda não aconteceu nenhum terremoto, e nenhum furacão devastou meu telhado, ainda que pelo estado geral se dissesse o contrário.
Acendo um incenso para tirar o cheiro forte da tinta, e faço uma oração, relaxo a coluna numa espreguiçada comprida e vou para o computador, responder minhas mensagens e dar bom dia aos amigos.
Ativo o meu filtro e apago umas dezenas de e-mail mal intencionadas, respondo outros, apago umas correntes, detesto correntes, e por fim vou trabalhar.
Ou melhor, me divertir, sair deste mar negativo de noticias ruins e entrar em meu mundo colorido.
O esboço da florista no cavalete me fez sentir o perfume daquela profusão de flores coloridas, ao lado em outro cavalete esperando a secagem, esta uma oriental de roupa azul e sombrinha vermelha aos ombros, que passeia feliz pelo bosque de cerejeiras, eu estou lá caminhando com ela me sentindo a própria gueixa.
Aqui dentro existem florestas, índios, água, cachoeira, objetos diversos em estantes espalhadas, aos poucos todos tomam forma em meu pensamento, e vem me fazer companhia.
Nenhum destes personagens que saiu de minha cabeça sabe das coisas tristes que acontecem fora daqui, fora deste meu pequeno mundo.
A pequena bailarina se equilibra numa cordinha bamba, e se delicia com o movimento, um apito chama-me a atenção, é um pequeno trem saindo da estante das crianças e passando por sobre os meus pés.
Uma arara azul grita perto da estante de tintas, me preocupo com a sujeira que ela fará.
Levanto os olhos e deparo-me com uma sereia a cantar um melodioso e triste cântico, sob as ondas pontiagudas das praias de Parati.
O guerreiro no kuarup prepara a lança, espantado em meio à de tanta algazarra.
Ao longo de um dia aqui dentro passam por mim as quatro estações, sinto o frio do inverno, e ao mesmo tempo contemplo as cores do verão.
E nesta deliciosa desordem, vou trocando idéias com meus personagens e dando vida às flores sob o toldo da florista, e quando me dou conta, o dia se findou, aos poucos meus pequeninos voltam aos seus lugares e novamente se tornam personagens inanimados.
Tiro o avental sujo de tinta, limpo as mãos e pouso os pincéis sobre a mesa.
Assim que abro a porta do ateliê, uma rajada de vento frio invade meus ouvidos, e uma voz forte me grita:
_Corre, vem ver, já são quase 50.000 mortos na china...
Se minha visão fosse como antigamente, juro que daria meia volta e passaria a noite ali, pintado e me divertindo, quem sabe assim, diminuiria o ciclo vicioso de notícias ruins que a moderna e globalizada mídia nos traz.
4 Comentários:
Tua visão, ainda, é de Menina.
Menina que pensa bem
Num mundo mais justo para todos.
Agora é deixar
Esta Menina viver sempre
Em ti.
Pois so assim
Poderas melhor voar
Nas asas da tua
Felicidade.
Beijos
Heitor de Pedra Azul
www.myspace.com/heitordepedrazul
Por
Heitor de Pedra Azul, às 20 de maio de 2008 às 04:52
AH MINHA AMIGA O DURO É QUE PARECE QUE SE VOCE NÃO ESTA A PAR DE TUDO VOCE É UM ET.
CERTO SERIA QUE NÃO ACONTECESSE NADA DE RUIM QUE ESTAMOS TANTO PRECISANDO DE BOAS NOTICIAS,BOAS NOVAS. FAZER O QUE?
VAMOS MISTURAR TUDO E TENTAR SER FELIZ CADA UM DO SEU JEITO.
LINDA SUA CRONICA!!!
BEIJUSSS
Por
Corina, às 20 de maio de 2008 às 09:09
Que sorte a sua que tem seu atêlie para fugir!!!!
Por
Maria Ercília, às 24 de maio de 2008 às 09:48
Parabéns! Você escreveu e descreveu, retratou as imagens com uma nitidez tão real da sua infância em "O Circo" e deu um colorido tão vivo, que senti voltar a minha infância também! Parecia que eu estava presente nos seus relatos! NOTA DEZ!
Por
EU, MINHA RESPIRAÇÃO, MINHAS POESIAS., às 7 de setembro de 2008 às 12:00
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