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sexta-feira, 16 de maio de 2008

CHEGA DE TV


É uma coisa inacreditável como a modernidade estraga o meu humor.

Levanto bem cedo, antes de o marido ligar o noticiário, para não ter que abrir os olhos vendo as barbáries do dia anterior.

Depois de lavar o rosto de olhos fechados é claro, pra não piorar o humor, vou para a cozinha, é quinta feira dia da faxineira.

Mal entro e lá esta ela com o radio ligado ouvindo mais desgraça.

Respiro fundo, porque as boas auxiliares domésticas andam raras atualmente, tomo meu café e vou para o ateliê, pelo menos ali ainda não aconteceu nenhum terremoto, e nenhum furacão devastou meu telhado, ainda que pelo estado geral se dissesse o contrário.

Acendo um incenso para tirar o cheiro forte da tinta, e faço uma oração, relaxo a coluna numa espreguiçada comprida e vou para o computador, responder minhas mensagens e dar bom dia aos amigos.

Ativo o meu filtro e apago umas dezenas de e-mail mal intencionadas, respondo outros, apago umas correntes, detesto correntes, e por fim vou trabalhar.

Ou melhor, me divertir, sair deste mar negativo de noticias ruins e entrar em meu mundo colorido.

O esboço da florista no cavalete me fez sentir o perfume daquela profusão de flores coloridas, ao lado em outro cavalete esperando a secagem, esta uma oriental de roupa azul e sombrinha vermelha aos ombros, que passeia feliz pelo bosque de cerejeiras, eu estou lá caminhando com ela me sentindo a própria gueixa.

Aqui dentro existem florestas, índios, água, cachoeira, objetos diversos em estantes espalhadas, aos poucos todos tomam forma em meu pensamento, e vem me fazer companhia.

Nenhum destes personagens que saiu de minha cabeça sabe das coisas tristes que acontecem fora daqui, fora deste meu pequeno mundo.

A pequena bailarina se equilibra numa cordinha bamba, e se delicia com o movimento, um apito chama-me a atenção, é um pequeno trem saindo da estante das crianças e passando por sobre os meus pés.

Uma arara azul grita perto da estante de tintas, me preocupo com a sujeira que ela fará.

Levanto os olhos e deparo-me com uma sereia a cantar um melodioso e triste cântico, sob as ondas pontiagudas das praias de Parati.

O guerreiro no kuarup prepara a lança, espantado em meio à de tanta algazarra.

Ao longo de um dia aqui dentro passam por mim as quatro estações, sinto o frio do inverno, e ao mesmo tempo contemplo as cores do verão.

E nesta deliciosa desordem, vou trocando idéias com meus personagens e dando vida às flores sob o toldo da florista, e quando me dou conta, o dia se findou, aos poucos meus pequeninos voltam aos seus lugares e novamente se tornam personagens inanimados.

Tiro o avental sujo de tinta, limpo as mãos e pouso os pincéis sobre a mesa.

Assim que abro a porta do ateliê, uma rajada de vento frio invade meus ouvidos, e uma voz forte me grita:

_Corre, vem ver, já são quase 50.000 mortos na china...

Se minha visão fosse como antigamente, juro que daria meia volta e passaria a noite ali, pintado e me divertindo, quem sabe assim, diminuiria o ciclo vicioso de notícias ruins que a moderna e globalizada mídia nos traz.

4 Comentários:

  • Tua visão, ainda, é de Menina.
    Menina que pensa bem
    Num mundo mais justo para todos.
    Agora é deixar
    Esta Menina viver sempre
    Em ti.
    Pois so assim
    Poderas melhor voar
    Nas asas da tua
    Felicidade.
    Beijos
    Heitor de Pedra Azul
    www.myspace.com/heitordepedrazul

    Por Blogger Heitor de Pedra Azul, às 20 de maio de 2008 às 04:52  

  • AH MINHA AMIGA O DURO É QUE PARECE QUE SE VOCE NÃO ESTA A PAR DE TUDO VOCE É UM ET.
    CERTO SERIA QUE NÃO ACONTECESSE NADA DE RUIM QUE ESTAMOS TANTO PRECISANDO DE BOAS NOTICIAS,BOAS NOVAS. FAZER O QUE?
    VAMOS MISTURAR TUDO E TENTAR SER FELIZ CADA UM DO SEU JEITO.
    LINDA SUA CRONICA!!!
    BEIJUSSS

    Por Blogger Corina, às 20 de maio de 2008 às 09:09  

  • Que sorte a sua que tem seu atêlie para fugir!!!!

    Por Blogger Maria Ercília, às 24 de maio de 2008 às 09:48  

  • Parabéns! Você escreveu e descreveu, retratou as imagens com uma nitidez tão real da sua infância em "O Circo" e deu um colorido tão vivo, que senti voltar a minha infância também! Parecia que eu estava presente nos seus relatos! NOTA DEZ!

    Por Blogger EU, MINHA RESPIRAÇÃO, MINHAS POESIAS., às 7 de setembro de 2008 às 12:00  

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