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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

CARNAVAL E CINZAS



Quanto Riso, quanta alegria, mais de mil palhaços no salão.

Arlequim esta chorando pelo amor da colombina,

No meio da multidão...

Quem não se lembra da velha marchinha de carnaval de Zé Kéti, Máscara Negra composta em 1967, tão cantada nos antigos bailes de carnaval.

O que restou de todo aquele riso, toda aquela alegria nos carnavais de hoje, é o que me pergunto.

Existia uma magia quase palpável, quando a cadência do ritmo diminuía e desacelerava os foliões, fazendo com que com os olhos procurássemos no salão aquele arlequim abandonado.

As fantasias que vestiam nosso corpo e nos transformava em personagens, se foram hoje ao contrário de alguns anos atrás, as fantasias são despidas, como se, em um corpo praticamente nu houvesse alguma magia, nada mais se esconde sobre os véus transparentes das odaliscas.

Os mil palhaços se tornaram umas poucas dezenas, e os salões ficaram vazios, neles apenas se ouve o pranto do velho arlequim em busca de sua colombina que provavelmente hoje veste o abadá de algum bloco carnavalesco e brinca espremida em meio a milhares de foliões, nas ruas de Salvador.

É meus amigos, as coisas mudaram nada da velha magia, nada de belas fantasias, apenas muita disposição e energia para gastar nos quatro dias subindo e descendo ladeiras atrás dos trios elétricos.

Hoje temos o grande espetáculo das escolas de samba, que atualmente mais do que samba no pé, disputam um título, aonde o que manda é a tecnologia e os grandes efeitos visuais, quem diria ver no sambódromo foliões esquiando em uma pista de gelo.

Aquele pierrô apaixonado que vivia só cantando, provavelmente ao ver o quanto se gasta com a indústria do carnaval, acabou chorando... Acabou chorando.

O grande circo da alegria por pouco não se torna o circo dos horrores, quem acreditaria que um carnavalesco usaria o holocausto no “maior espetáculo da terra”.

Nada mais da pura e simples alegria que tantos poetas escreveram em guardanapos de papel, para depois fazer daqueles rabiscos um belo samba-enredo cheio de lirismo.

O confete, a serpentina, o cheiro de lança perfume no ar, tudo isso ficou esquecido naqueles grandes e velhos salões dos clubes de nossas cidades do interior.

O ritmo é outro, as fantasias são outras, as pessoas também são outras, mais preocupadas em extravasar suas angústias e tensões nestes poucos dias, do que entrar no personagem daquele velho espetáculo e sentir a magia do tempo.

A mesma máscara negra que esconde o seu rosto, eu quero matar as saudades.

Vou beijar-te agora, não me leve a mal, hoje é carnaval...

A inocência do beijo roubado era a máxima que se podia esperar naquelas noites de folia, hoje nossos filhos chegam em casa com dezenas de preservativos que são entregues aos montes em campanhas pré carnavalescas, como se fazer sexo nas noites de carnaval fosse uma obrigatoriedade. Loucura.

Não há fênix que consiga renascer destas cinzas que neste ano quase se misturou as cinzas dos fornos de Auschwitz.

Mas não me leve a mal... Hoje é carnaval...

9 Comentários:

  • .....amiga....a vida e 1 carnaval constante..levamos a vida a tentar disfarçar..1s x por bem p tentar encobrir o k nos vai na alma...outras x....sao akelas k s disfarçam c mascaras de boazinhas e nos apunhalam pl costas....enfim carnaval da vida....parabens pl lindo texto.....

    Por Blogger maria tereza, às 6 de fevereiro de 2008 às 11:58  

  • Cristiane

    Parab�ns pela cr�nica sobre o carnaval....maravilhosa e totalmente verdadeira...adorei!!
    Bjs,
    Mar�lia Pacheco

    Por Blogger marilia, às 6 de fevereiro de 2008 às 12:21  

  • Cristiane, que linda crônica! Você descreve com palavras a realidade dos tempos de hoje e a saudade dos tempos idos.Já não se faz mais carnaval como antigamente.
    Parabéns!!!Lhe adoro!!!
    Beijos!
    Neneca.

    Por Blogger Neneca Barbosa - Um ser humano em evolução!, às 6 de fevereiro de 2008 às 13:02  

  • Falaste bem amiga...
    O prazer da carne hoje é essencial.
    Perdemos a historia do carnaval.
    As famílias perdendo no controle dos seus.
    Como dizem algum, a vida parece um carnaval.
    Deus continua te abençoasndo em cada rabisco que vem do seu coração.
    Parabéns, minha linda.

    Por Blogger Ana Maria, às 6 de fevereiro de 2008 às 14:52  

  • Cristina.... Adorei sua crônica, disse tudo o que eu gostria de dizer....
    Há!! Quanta saudades.... dos velhos tempos.....
    Adorei.
    Um grande abraço.....

    Por Blogger Unknown, às 7 de fevereiro de 2008 às 03:35  

  • Cris!!! Dizer o que? Fantástico!!! Vc escreve divinamente amiga! E sempre me toca o coração. Bjs!

    Por Blogger Maria Ercília, às 8 de fevereiro de 2008 às 15:36  

  • Parabéns mais uma vez, minha cara amiga!
    Sempre criativas suas crônicas!
    Realmente o carnaval mudou muito, as pessoas mudaram muito.
    O romantismo se foi, o respeito idem e a segurança nem se fala.
    Ainda bem que pude viver aquela época que não voltará mais!

    Por Blogger Unknown, às 9 de fevereiro de 2008 às 11:10  

  • Cris...Lí todos os blogs teus. Um mais bonito que o outro. Muito verdadeiro, sem hipocresia, etc.
    Parabéns, continue a escrever como tal, que estarás fazendo a tua parte.
    Abraços, victor/rio

    Por Blogger j.victor, às 10 de fevereiro de 2008 às 18:04  

  • Quem diria, hein?! Você por aqui!
    Parece até que nos atraimos. Vim ver o trabalho de minha amiga Neli e que grata surpresa encontro você!
    Que incrível saber que também conhecestes o carnaval de verdade nos tempos de ouro...
    Adorei teu relato, adorei saber que dentro de você existe toda essa magia daqueles tempos...
    Vamos torcer para a cuica não sumir e o verdadeiro samba junto com ela!
    Beijos Amiga Cris!!!

    Por Blogger Unknown, às 8 de abril de 2008 às 04:51  

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