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quinta-feira, 10 de abril de 2008

QUE PAÍS É ESTE?


Escrevi uma crônica com este título a uns dez anos atrás, e hoje relendo, percebi que muitas coisas mudaram realmente neste país, umas para melhor outras nem tanto. Acredito que sofríamos menos com a impunidade, pois não tínhamos conhecimento dos crimes, esta foi uma das diferenças, hoje sabemos dos crimes, e temos mais consciência da impunidade, o que no frigir dos ovos continua a mesma coisa.

Tínhamos desempregados como hoje, tínhamos crimes brutais como hoje, porém tínhamos menos informação, ou até talvez eu não me importasse com elas, como me importo hoje.

Quando era menina, lembro-me que não tínhamos acesso a nenhuma destas informações, éramos apenas crianças felizes, vivendo a infância com naturalidade, como ainda deveria ser. Hoje vejo crianças que aos dez anos já discutem política e acompanham as investigações de crimes hediondos praticados contra elas.

Me choca o fato de todas as barbáries que hoje são de conhecimento público, fazer parte da vida e dos assuntos no recreio das escolas destes meninos.

Não ouvíamos absolutamente nada sobre sexo, porque existia uma ordem cronológica para estes assuntos serem abordados por nossos pais.

Hoje as escolas dão orientação sexual para prevenir nossas crianças dos muitos perigos que elas estão sujeitas, tais como os abusos, uma gravidez precoce, as doenças.

Quando se poderia imaginar que haveria necessidade deste tipo de prevenção.

O Rio de Janeiro era a nossa cidade maravilhosa, lembro-me bem quando lá passava as férias de verão, sem nenhuma preocupação com uma bala perdida, ou com doenças como a dengue, que ressurgiram neste país pelo puro descaso e falta de boa vontade política.

Existia uma ordem natural nas coisas, as meninas cresciam e aprendia como gerenciar uma casa, cuidar de uma criança, cozinhar.

Os meninos eram preparados para assumir responsabilidades de um homem, e compor uma família.

Hoje, além de tudo que nos foi ensinado, ainda temos que ensinar nossas filhas a serem astutas, a terem uma profissão, a se sustentar, a disputar seu espaço no mercado de trabalho, e ainda lembra-las que precisam ser carinhosas, dedicadas, amigas e companheiras e que mesmo com todos estes predicados, elas correm um grande risco de ter que assumir sozinhas a casa e a educação dos filhos.

Isso tudo é muito surreal, e se analisarmos bem, aconteceram a pouquíssimo tempo, se formos colocar os fatos em ordem evolutiva, as mudanças foram rápidas e radicais demais, e acho que não gosto delas.

Preferia o tempo em que as praças estavam repletas de crianças correndo e pedindo algodão doce, pulando amarelinha, corda ou brincando de pique esconde.

As crianças que habitam as praças atualmente, já não trazem nas mãos as burquinhas coloridas e nem um io-iô, mas carregam pequenos sacos aonde colocarão a drogas que impedirá que eles sintam fome.

Não, definitivamente eu não gostei das mudanças.

A única boa mudança que vi acontecer nos últimos tempos, foi a retomada de nossa consciência em podermos exercer plenamente nosso direito de cidadão, cabe a nós agora fazer com que nossos governantes trabalhem para mudar este quadro caótico que diariamente invade nossos lares através dos noticiários.

Este país pode e deve continuar mudando, mas que seja para melhor, pois não tenho visto nenhum destes bons índices indicados pelo governo, trazer de volta a serenidade que existia em nossos lares.