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quinta-feira, 26 de junho de 2008

QUEM PODE JULGAR A ARTE?


Constantemente recebo mensagem de amigos artistas, que tem dúvidas acerca de seu trabalho, estão em crise criativa ou desanimados com as críticas às suas obras, a estes artistas gostaria de dedicar este texto.

Não sei quem disse ou instituiu que a arte tem que ser avaliada ou criticada, provavelmente isso remonta de séculos, porém eu discordo completamente da maneira como estas avaliações são feitas.

A quem cabe dizer se uma obra é boa ou não? A quem cabe dizer ela vale x ou Y?

Se nos fizermos uma pergunta bem fundamental a nós mesmos, quem sabe possamos encontrar alguma resposta. O que eu quero com a arte? Para que ela me serve?

Costumava participar de salões há muitos anos atrás, mas desisti depois que fui convidada a fazer parte da equipe de seleção para um salão de paisagens. Senti-me um lixo porque na verdade para mim todos deveriam poder participar, pois todos foram feitos com sentimento, criatividade e técnicas que cada um possui. Achei-me completamente incapaz e declinei do convite, principalmente depois de ver que na verdade na maioria das vezes a seleção é feita por escolhas pessoais e normalmente são escolhidas obras de pessoas conhecidas dos avaliadores. Quer dizer na maioria dos casos é marmelada, e muitas vezes, diversos artistas, principalmente aqueles que ainda não tem segurança em seu trabalho, acabam desistindo de pintar.

Com a globalização de um modo geral, a arte se tornou mais acessível ao público, hoje podemos sem sair de casa conhecer trabalhos de artistas de todo o mundo, mas em contrapartida a isso, criou-se uma grande rede comercial em cima do meio artístico, e com ela também do nada surgiram muitos entendidos em arte, curadores e etc.

Diversas galerias hoje sobrevivem desta imensa diversidade de arte espalhada pelo mundo, porém não acredito que o simples fato de alguém ter um espaço para ganhar dinheiro em cima do trabalho dos outros, lhe dá o direito a criticá-los.

O que ocorre é que normalmente um marchand de arte já tem um perfil exato de seu comprador, e neste conceito acaba trazendo ao seu espaço apenas aquilo que lhe é interessante comercialmente, deixando de lado artistas magníficos apenas por que suas obras não são vendáveis ao seu modo de vista é claro.

Existem trabalhos que tem um apelo visual forte, cores quentes enfim, trabalhos que cabem na maioria dos ambientes, os ditos mais vendáveis, e outros que são obras mais elaboradas, belíssimas, mas tem maiores dificuldades de vendas, não pela qualidade, mas porque na maioria das vezes são obras que requerem um grande espaço ou um local determinado conforme o tema. E para os vendedores de telas isso não é interessante.

E neste contexto, muitas galerias se tornaram não um local de divulgação de artistas, e sim apenas uma loja decorativa, as cores das telas precisam com a pintura da parede, com o tapete ou o abajur, e assim vai.

Não estou dizendo com isso que não existam galerias sérias, ou pessoas bem intencionadas, existem sim, porém andam ficando escassas com a atual concorrência neste mercado.

O que quero dizer a meus queridos amigos artistas que encontram algumas destas dificuldades é o seguinte, Vincent Van Gogh nunca foi aceito em um salão de artes enquanto vivo, por ter um trabalho pouco compreendido para a época, ele vendeu em vida apenas uma obra.

A arte é essencialmente do artista, e quando tentamos mudar isso para uma arte para compradores, é quando nos perdemos, em conteúdo e qualidade.

Precisamos sobreviver neste mundo capitalista estou bem segura disso, mas não deixe a arte morrer para você, ainda que digam que o seu trabalho não é vendável, acredite o sentimento que imprime nele vai ficar para sempre na memória daqueles que possuem a sensibilidade de sentir naquela obra a alma do artista.

domingo, 22 de junho de 2008

A ARTE EM CRISE


Acho que vou escrever algo meio inusitado pra um artista, não querendo roubar o chavão de nosso ilustre presidente, eu diria... Nunca antes na história deste país o artista esteve tão desvalorizado.
Tenho visto, e sentido, esta realidade, assim como certamente tantos outros artistas que vivem neste mesmo solo divino que é o nosso Brasil.
E quando falo neles, cito a grande maioria dos que necessitam da arte para sobreviver, chegando ao extremo de vulgarizá-la, para ter seu ganha pão.
E a coisas não fica só por ai, sempre tivemos artistas fabulosos vendendo sua arte nas ruas, mas atualmente a crise tem afetado também os artistas mais nobres, aqueles que já haviam construído sua história, que já haviam criado nome no mercado interno e no exterior.
Pois isso é uma realidade que me faz repensar a arte como primeira opção de vida.
Com a crise imobiliária nos estados unidos, inúmeros artistas tanto americanos como estrangeiros, e neste contexto incluo muitos brasileiros, deixaram de vender suas obras.
O que acontecia naquele frenético círculo era que, as construtoras ao terminarem um imóvel, decoravam e mobiliavam para a venda, usando assim trabalhos de artistas e arquitetos de interiores.
Isso acabou com a crise americana, e gerou outra crise interna no meio artístico.
Lembro-me que a cerca de poucos anos, bem poucos falo de dois ou três anos atrás, recebia constantemente convites para exposições, digo convites, e não cobranças, pois os convites atuais que recebemos só faltam vir com um boleto bancário anexado.
Criou-se em cima da crise no meio das artes plásticas, um comércio, frio, e desumano, que acaba tirando de artistas pobres, os poucos recursos que estes possuem, dando-lhes a ilusão de grandiosos retornos, e deixa o artista já estabelecido, com dúvidas acerca do valor artístico de seu trabalho. Levam nossas obras para verdadeiras cavernas escondidas pelo mundo afora, e na maioria das vezes retornam, deixando ao artista expositor, apenas prejuízos.
Pintar sempre foi a coisa mais importante de minha vida, até porque criei quatro filhos com ela, e hoje depois de um longo processo de amadurecimento artístico, percebo que a arte se tornará apenas um hobbie e serei obrigada a transferir minhas energias e criatividades para algum segmento que me dê sustentabilidade.
E eu pergunto: o que esta errado?
Aonde esta o incentivo de nossos governantes aos artistas que são um patrimônio desta nação?
Temos a lei Rouanet , teoricamente deveria abrir caminho aos artistas de um modo geral, mas o que vemos são oportunistas que ganham fortunas para montar processos de aprovação aos nossos projetos, trocando em miúdos significa termos que pagar para conseguir auxílio da única lei que, o governo destinou a nos ajudar.
Não tem inspiração que resista a estas mudanças, hoje entendo porque não existe mais romantismo em nossa música, é porque não existe mais o personagem romântico que dedilhava canções à soleira de alguma janela, teve que arrumar trabalho na padaria de seu Joaquim para pagar as contas no final do mês.
E nós caminhamos pela mesma estrada deles. Tenho visto bons artistas, de grande potencial, desistir de sua arte por um emprego seguro, e eu não os condeno.
Se existe alguma culpa pela perda cultural de nosso povo, não é certamente por culpa do artista, e sim daqueles que deixam de abrir as portas para que os mesmos possam dignamente mostrar o que fazem pela cultura deste país.
Se eu fabricasse carros, certamente não teria que pagar para que eles fossem comprados, mas faço arte, e isso tem me custado mais que um valioso tempo, tem-me custado a dignidade de ser rotulada e etiquetada como mercadoria barata.