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domingo, 24 de abril de 2011

E o tempo perguntou ao tempo... quanto tempo o tempo tem?


Li alguma coisa fabulosa de Mario de Andrade, que dizia o seguinte: “Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.”
Passei alguns dias pensando nesta frase que me caiu como bomba sobre a cabeça que insiste em branquear.  Revi meus conceitos e minha vida, e me dei conta que realmente o tempo é implacável e não se pode reverter nada do que passou, mas certamente ainda resta algum tempo para mudar o que não funcionou.
A grande vantagem que se tem ao chegar nesta etapa da vida é a seguinte: não precisamos mais de nenhum artifício, nenhuma mentira mais convence, somos de uma transparência que somente os anos foram capazes nos dar. É uma nuance que não existe em nenhuma outra paleta a não ser daqueles que já usaram todas as cores tentando camuflar defeitos e ranhuras, e daqui pra diante podemos dar a vida a tonalidade que desejarmos, sem medo de não agradar, sem medo da rejeição.
 Quem não nos aceita como somos, não merece a dádiva de tocar nos fios prateados que contam a nossa história. Não sentirão o frescor das lagrimas que descem pelos vincos de nossa face trazendo consigo tantas experiências vivenciadas.
Somos tesouros prontos a serem desenterrados. Um baú de sabedoria que nenhum corpo jovem e esguio contém.
Se não temos lá muito tempo a nossa frente, temos o passado ha nosso favor.
Somos o salgueiro, a fênix que só emerge depois de finda a última brasa.
Então porque maldizer a velhice?
Temos tudo a nosso favor, uma liberdade que a mocidade jamais contemplou.
Mario de Andrade ainda diz: “As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos. Quero a essência, minha alma tem pressa...”
O tempo agora urge, não dá mais para esperar pelos acontecimentos, é necessário antecipá-los e vive-los.
O que encanta nisso tudo, é poder falar dos meus cinqüenta anos sem nenhum pudor, sem nenhum receio.
É poder olhar os meus netos e saber que ainda tenho energia o bastante para ensinar a eles que a vida só vai valer a pena no dia em que as ilusões forem substituídas por fios de cabelos brancos em suas cabeças. Daí sim eles saberão que a vida esta para começar.  

 Cristiane Campos  Abril/2011