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sexta-feira, 5 de setembro de 2008

O CIRCO


Fazia muito tempo que eu não ouvia mais falar de circo, a não serem os novos, grandes e famosos como o cirque du soleil ou o circo nacional da China.
Mas eu estou falando daquele circo mambembe, com lona listrada e colorida, que vinha em minha cidade até com certa freqüência quando era menina.
Aquele que desfilava pelas ruas, com jaulas de leões e os elefantes andando lentos e enfileirados, segurando um no rabo do outro.
Os palhaços vinham à frente do cortejo colorido, dando saltos e jogando bolinhas para o alto, o mágico com sua cartola, e as moças bonitas em suas roupas justas e cheias de brilhos que jogavam bastões de uma mão para outra.
Eu assistia a tudo estarrecida segurando à barra da saia de minha avó que morava bem próximo a avenida principal aonde o desfile acontecia. Era uma magia indescritível, que me fazia sonhar todas as noites até o grande dia que seria levada para dentro daquele mundo maravilhoso.
Esta semana meu netinho de dois anos e meio que mora em uma pequena cidade de interior, passou uns dias comigo, e quando chegou veio correndo contar-me que ele tinha ido ao circo, e o palhaço soltava pum colorido, dei muita risada da alegria dele e do modo como guardou aquelas imagens em sua memória.
Rapidamente me vi ali sentada naquele cercadinho de ferro que chamavam de camarote, com meus filhos ainda pequenos, comendo pipocas e com os olhos vidrados no picadeiro.
As lembranças me remeteram ainda mais longe, sentada agora na arquibancada de madeira e com um pacote de amendoim torrado nas mãos, vi passar diante de meus olhos um filme de minha infância, a alegria que existia naquele picadeiro de lona suja, os malabaristas com roupas puídas, a rede remendada que era estendida para a segurança dos trapezistas.
O cheiro do algodão doce pairava no ar, somente no circo ele tinha aquele sabor especial, ficávamos lambuzados de açúcar e felicidade, vendo com olhar atento o mágico a tirar coelhinhos e lenços coloridos de sua cartola.
O palhaço com perna de pau me impressionava demais, tive por muitas vezes meus joelhos esfolados na tentativa de imitá-lo.
O auge do espetáculo era certamente o globo da morte, com as motocicletas barulhentas e aqueles homens destemidos a fazer acrobacias dentro dele, era mesmo inesquecível.
Hoje não existem mais animais nos circos que sobreviveram.
Não há mais macaquinhos que andavam de bicicleta, e leões saltando de um lado para o outro passando por dentro de uma grande roda de fogo, aquilo era mesmo assustador, mas na verdade desde muito pequena ficava revoltada em ver os bichos presos em gaiolas que mal caberia uma ave.
Vendo o brilho nos olhinhos de meu neto, e percebendo como ainda eram vivas aquelas imagens em minha memória, conclui que o circo é uma experiência sem precedentes para uma criança, ele não tem época e nem idade.
Somente me entristece saber que aos poucos eles vão desaparecendo e dando lugar a espetáculos mais tecnológicos e grandiosos, uma pena porque mesmo com todos os maravilhosos efeitos especiais que vemos hoje nestes shows, jamais nos esqueceremos das caras pintadas com nariz vermelho que nos contagiavam com suas alegrias e brincadeiras.
Até hoje eles vivem em minhas lembranças, os mesmos palhaços que hoje pintam seus rostos para esconder as lagrimas que teimam em sair de seus olhos entristecidos pelo esquecimento.