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terça-feira, 29 de julho de 2008

Meu Calcanhar de Aquiles


Conta a mitologia grega que Tétis mãe de Aquiles, mergulhou o recém-nascido, nas águas do Estige (rio que dava sete voltas no inferno). Este fato tornou o filho invulnerável, salvo pelo calcanhar que não foi banhado, pois a mãe o segurava por esta parte do corpo. Aquiles teria perecido em batalha ferido mortalmente por uma fecha envenenada que atingira o seu calcanhar.

Tenho verdadeira fascinação por mitologia, e sempre fico fazendo comparações entre nós os mortais e eles os Deuses, que em sua magnitude e imortalidade sempre acabavam sucumbidos por algum ponto fraco, assim como qualquer um de nós.

Muitas vezes nos sentimos dono e senhor de alguma situação, e ao final de uma grande batalha interior, acabamos por descobrir que também temos nosso calcanhar de Aquiles, cheguei à conclusão de que o meu, é o coração.

Sob todos os aspectos somos sucumbidos pelos arrebates do coração, quer seja na vida cotidiana, no trabalho ou no amor.

Estamos sempre protegendo este órgão como se corresse risco iminente de ser arrebatado ao nosso peito e feito em pedaços por algum inimigo que irá usá-lo como troféu de sua batalha.

Acabamos então por envolvê-lo em forte couraça de material impenetrável, e assim nos sentimos seguros para prosseguir.

E vamos bem, subindo degraus e conquistando batalhas, pisando em quem estiver pela frente e ao alcance da vista, pois afinal aquele coração que outrora nos fazia sensível ao adversário, hoje se tornou uma arma poderosa contra eles.

Um coração envolto e fechado pode perfeitamente ser cruel e assim angariar mais e mais conquistas em seu benefício próprio.

E ao final de uma trajetória, percebem-se quantos troféus arrecadados durante esta guerra enfrentada ao longo da vida, porém, não há ninguém com quem dividir os louros.

Ficamos sozinhos com o prêmio de nossa indiferença.

Ninguém a lhe felicitar, ou bater copos em sinal de alegria, nada além do que você e seu coração endurecido pela força do couro que o protegeu.

Tenho visto tantas pessoas assim ultimamente, quantas delas sem nenhum coração, sem nenhuma solidariedade, sem nenhuma compaixão.

São muitos vencedores que foram vencidos, pois quando ao final e já cansados de conquistas, querem derribar suas cabeças cansadas em um ombro amigo, percebem que não os tem, e ao tentarem remover a couraça que envolve seu ponto frágil, já não podem mais, o material com o tempo se fundiu a própria carne deste órgão intumescido.

Se ganha muito pouco diante do que se perde em uma vida, quando nos fechamos ao próximo e conseqüentemente a nós mesmos.

A maior glória não esta no ouro que ajuntamos e sim nos sorrisos que semeamos ao longo de nossos dias de passagem por aqui.

Descobri como Aquiles, que também tenho um ponto fraco, e de repente senti-me invadida de imensa felicidade por perceber que o “meu calcanhar”, sangra e chora pelas injustiças que vê, e isso significa que ele não foi encouraçado, ao contrário, foi polido com suave e perfumada camada de amor, carinho e de compreensão.

Provavelmente o que juntarei na vida não será por muitos compreendido ou valorizado, mas que em verdade é o maior tesouro que se pode ajuntar.

Colher os frutos das sementinhas que germinaram cada vez que o coração chorou ao ver na estrada uma criança faminta, um pai desempregado, um velho abandonado.

Meu coração tem a maior prêmio que se pode conquistar, ele ama.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

LIDANDO COM AS EMOÇÕES


Hoje recebi uma mensagem que me tocou profundamente e me fez repensar as emoções, como eu as sinto e por que.

Era uma mensagem contendo fotografias famosas, e de repente ali estava eu, chorando ao ler a verdadeira história de cada uma delas, não pelo fato de nunca as ter visto, até porque são fotografias conhecidas, mas pelo fato de descobrir o que realmente acontecia no momento em que foram eternizadas.

Depois fiquei pensativa com minha reação, porque antes nunca havia chorado com imagens chocantes, ou com as desigualdades sociais, porque exatamente hoje estas imagens mexeram comigo.

Em uma análise mais profunda, percebi que muita mudança vem se operando em minha maneira de ver as coisas e os acontecimentos.

Passei por períodos diferentes, houve época em que as coisas me revoltavam, e eu protestava e me agigantava diante das atrocidades gritando por justiça. Depois me calei em um silencio longo e profundo como se quisesse rever aquelas atitudes infrutíferas.

Entrei então em um processo de interiorização, em que me negava a ver os acontecimentos diários.

Com a globalização e a chegada imediata das notícias, fiquei ainda mais avessa à realidade das informações, além de não ter mais forças para lutar pelos oprimidos, não mais queria assistir a todas as barbáries que estavam a nossa volta, que sempre estiveram, porém agora estampadas com sensacionalismo barato e apelativo.

Percebi em um dado momento dentro desta angústia, que minha ótica esta totalmente mudada. Sinto-me fragmentada diante deste mundo tão diferente daquele que eu nasci e cresci.

Diferente sim, sem poesia e sem amor, um mundo aonde poucos lutam contra gigantes para tentar salvar o que já se perdeu.

Às vezes penso cada bobagem, chego a acreditar que existem pessoas que faz a mente se desligar do mundo para não mais fazer parte dele, se ausentam.

Diante disto, recomponho meus pensamentos e busco me equilibrar, sem deixar que esta emoção se transforme em alguma energia negativa.

Abro novamente a mensagem, e desta vez já preparada para o que esta nela, aprecio o ângulo do profissional que a fez, a iluminação precisa, a arte naquele momento inusitado e etc. de novo me pego aos prantos.

De nada adiantou ter me preparado para enfrentar uma realidade, ela continuava me tocando de maneira dolorosa e profunda.

Concluo então que este é mais um estágio de minha vida, e que não devo tentar mudá-lo. Vou olhar e apreciar se for o caso, chorar se der vontade, posso ainda lutar pelas injustiças a minha maneira, não mais gritando e nem carregando faixas em protestos públicos, apenas mostrando sob a ótica sensível de uma artista, que ainda existe conserto pra tantas insanidades que somos obrigados a assistir, de braços cruzados.

Cada um grita do jeito que der.

Eu escrevo daqui, um amigo pinta uma tela em outro lugar, outro compõe uma musica acolá, e assim de uma forma mais branda, porém permanente, vamos plantando nossa sementinha, na esperança de um mundo melhor para nossos filhos e netos.

Que eles possam abrir um jornal, e passarem o resto do dia felizes com as notícias boas, que possam respirar profundamente sem engasgar com a poluição e ter orgulho da pátria em que vivem, pois certamente neste mundo que começaremos a preparar para eles, não existirão “Danieis Dantas e Cacciolas” a rir-se de nós, pobres mortais.