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terça-feira, 25 de março de 2008

FÊNIX


“A fênix ou fénix (em grego ϕονιξ) é um pássaro da mitologia grega que quando morria entrava em autocombustão e passado algum tempo renascia das próprias cinzas. Outra característica da fênix é sua força que a faz transportar em vôo cargas muito pesadas.”

Fomos, somos e seremos eternamente uma Fênix...

Nossa vida é um emaranhado de incêndios e de renascimentos, o único problema é o medo que temos deste fogo.

Construímos um ninho, bonito, fortificado, e nele botamos nossos ovos de ouro, nele depositamos todos os nossos ideais...

Ficamos ali, por preciosos momentos, chocando estes sonhos.

Eles nascem, crescem e batem asas, e em um dado momento de nossa vida, tudo isso se transforma em cinzas... Tudo se acaba, e percebemos num instante que tudo até ali foi em vão.

Então, renascemos destas cinzas como a fênix, e se quer olhamos para aquele ninho ainda fumegante, pois se olharmos para trás, perderemos o rumo do novo vôo.

Assim é nossa vida, cheia de encantos e desencantos, e é exatamente isso que a torna tão bela e tão preciosa, somente por isso a vida é tão boa e necessária.

Acredito mesmo que só depois de algumas boas tostadas nos tornaremos aves verdadeiras, destas que podem cultivar um ninho mesmo sem mais botar os ovos, mesmo que neste ninho existam somente as cinzas da antiga ave que já fomos, ainda assim acredito no novo, no inesperado e no inusitado.

Porque então temos tanto medo de mudar o rumo de nossos vôos.

Porque somos tão permissivos com a infelicidade apenas para preservar um ninho seco e cheio de cascas vazias.

Será que nossa natureza de fênix só nos aparece depois que queimamos no fogo da desilusão?

O medo de mudar o que cremos imutável, nos torna escravos de nós mesmos.

Perecemos numa infelicidade absurda e solitária, para fazer brotar em outros, sorrisos de satisfação.

É justo?

É conveniente?

É prático?

Não sei, mas sei que é triste olhar o céu e contemplar dezenas de fênix que conseguiram ressurgir de suas cinzas, que conseguiram se libertar das algemas da mediocridade e alçar um vôo verdadeiro, mesmo que trôpegas, mesmo com as asas quebradas e sem direção, estão lá, tentando permanecer no ar.

E eu fico aqui olhando o céu e maldizendo minha sorte?

Não estaria sendo justa comigo.

Sacolejo este pó acinzentado que suja minha asa desbravadora, fecho os olhos e me lanço em um vôo louco que ninguém pode impedir.

Meu renascimento.

quarta-feira, 19 de março de 2008

SOLIDÃO


Quem de nós já não se sentiu assim em alguns momentos da vida, solitário.

Solidão não é doença, é escolha.

Depois de muito tempo cheguei a esta triste conclusão, sim triste, pois não podia mais imputar a ninguém a culpa por me sentir solitária, afinal, as pessoas estavam ali, como sempre estiveram, eu é que havia me mudado de lugar, havia me recolhido inesperadamente da vida, e sem morrer.

Isto acontece às vezes, pelo menos comigo, me sentir completamente só em meio a uma multidão. É bom? É ruim?

Não sei, já foi muito bom, quando o momento havia sido determinado por mim para ser um momento de introspecção. Mas já foi ruim, e muito, naqueles momentos que busquei a todos e nenhum deles me fazia sentir presença alguma.

Nestes momentos eu parei, e pensei...

Porque a solidão é necessária?

E ela é, pode acreditar, é o único e mágico momento que você é sincero de verdade, pois não existe platéia a te julgar.

Nestes momentos podemos fazer aquela dolorosa reavaliação da vida...

E descobrir que somos humanos, falhos e pequenos...

Mas esta verdade é só nossa, nestes infinitos momentos de solidão, que são tão íntimos.

Quantas contas, em débito já não me cobrei.

Quantas mentiras já não me censurei.

Quantas oportunidades perdidas já não chorei.

A vida é um grande jogo, sem vencedores e sem vencidos.

Ganhamos umas e perdemos outras.

O resultado independe do placar, ganha quem aprendeu, perde quem acredita que ganhou.

E assim continuamos nesta estrada comprida, que esperamos nos leve a plenitude, ou seja, a somatória de todas as nossas experiências já vividas.

Quanto mais o tempo passa, mais nos afastamos das pessoas, mais nos damos conta de que a verdade não esta neles, e sim em nós mesmos.

A solidão pode parecer alguma coisa assim que dói, mas na verdade a solidão é algo que cura.

Cura-nos do egoísmo, da prepotência, da angústia.

Pois é nela que reencontramos a criança que já viveu em nós.

Encontramos a adolescente vivaz que dominava o mundo.

Encontramos a mulher que se fez mãe.

E por fim depois de tanta luta e desprendimento, encontramos o que realmente somos.

Pode não restar muito tempo para que os antigos amigos nos vejam como realmente somos, mas isso não importa.

O importante é que possamos tomar posse desta maravilhosa presença de nós mesmos, que possamos ser necessários.

Que todas as nossas lutas sejam reconhecidas.

Que nossa coroa de louros não passe de um simples passar de mãos em nossas cabeças.

Que nossas vitórias sejam gritadas apenas em nossos ouvidos como um sussurro de agradecimento.

Agradecimento ao tempo que nos sentimos solitários tentando ser pessoas melhores, para que nossos netos possam ter mais tempo em comunhão com os seus, sem a necessidade do isolamento, pois já sabiam que fizemos este sacrifício para que eles vivessem em paz.

sexta-feira, 7 de março de 2008

SOMOS TODAS IGUAIS


Maria pula da cama acreditando ter perdido a hora, são cinco e quinze da manhã, vai se atrasar. Joga para o lado o lençol amarrotado e cheio de pequenos furos que as traças fizeram ao longo dos anos. Tateia com os pés o chão úmido e frio de seu barraco, em busca de suas havaianas puídas. Agradece a Deus por se levantar ainda andando daquele colchão desgastado. Sonolenta, lava o rosto na bacia em cima da mesa no canto do único cômodo de sua humilde casa. Já de olhos bem abertos se depara com o presente que é deixado diariamente num mesmo canto, uma pilha enorme de roupas sujas de seus quatro filhos, que ela ainda precisa lavar antes de sair para o trabalho. O marido, a muito partiu, levado pelo peso da responsabilidade que a cachaça não o ajudou a assumir. Cantarolando um hino religioso, vai para o tanque levando a trouxa de roupas e torcendo para não acabar a última pedra do sabão feito com a sobra do óleo da cozinha da patroa.

Prepara primeiro o almoço e depois o café da manhã. Estica a cama, põe a mesa, acorda os meninos, e com uma alegria natural de quem é mulher, desce a ladeira lamacenta em direção à cidade.

Já passa das dez da manhã quando Ângela se estica sonolenta nos lençóis macios de cetim cor de creme, coloca um pé após o outro nas delicadas pantufas que estão sobre o tapete persa que ela trouxe na última viagem ao oriente.

Em cima da mesa perto da janela, um ramalhete de flores, a tradicional caixinha preta aveludada com alguma jóia cara dentro e um bilhete rápido e curto do marido dedicado e apressado que diz: “Parabéns pelo dia das mulheres”. Ela se encaminha ao banheiro, passando pelo closet já com a preocupação do que vestir naquele dia.

Ao toque da campainha, Maria já com o café da manhã na bandeja entra com o mesmo sorriso tranqüilo e cumprimenta a patroa que embrulhada em um fino penhoar de seda cor de rosa reclama do dia quente.

Com um gesto automático entrega-lhe as flores, para serem colocadas no vaso cinza de murano que esta no aparador do hall de entrada.

Pergunta preocupada pelos filhos e, abre sem interesse o presente deixado pelo marido que ela provavelmente só tornará a ver altas horas da noite, visto que sábado é dia do golfe com os amigos.

Faz as reclamações e confidências diárias, que não confiaria a mais ninguém, e Maria escuta devotada olhando agora não a patroa, mas a mulher que como ela sofre todos os males que uma alma feminina pode sofrer. Ouve, acalanta e aconselha, depois volta para a cozinha cantarolando seu hino e feliz por ser sábado, pois amanhã domingo ela pode fazer uma boa faxina em seu barraco, depois da igreja.

O que une estas mulheres tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais é o que me encanta quando analiso o dia a dia de muitas delas, Marias, Joanas, Terezas, somos todas exatamente iguais não importa a raça, credo ou a condição social. Temos todas a mesma força e coragem que somente a nós foi destinada, sofremos, choramos, e enfrentamos um problema até encontrar solução. Somos mães, às vezes pais, donas de casa, profissionais, amigas, esposas, companheiras, amantes.

A jornada de trabalho de uma mulher, por vezes descrita em documentários só parece exaustiva quando assistimos pela TV, só então me dou conta de que realmente fazemos tudo aquilo em um espaço de tempo tão limitado, e ainda nos preocupamos com a unha quebrada, o cabelo por pintar, os quilinhos para perder, achamos tempo para ler poemas, jornal, receita da Ana Maria Braga e corrigir o dever de casa das crianças.

Quando todos se deitam, andamos pela casa recolhendo copos, pratos, papéis e alimentando os animais. Velamos acordadas pelo sono de nossos filhos quando enfermos, e ainda encontramos força para atenuar a dor e o sofrimento dos mais fracos. E NOS DEDICAM NO ANO APENAS UM DIA.

Que seja, é hoje este dia, que todas sejam lembradas, sem que haja discriminação.

Estadistas, diaristas, operárias, executivas, costureiras ou colunistas.

Todas sem exceção.

Da mãe dedicada à funcionária padrão

Que nos escrevam poemas, que nos dediquem uma canção.

Parabéns a nós, por sermos todas maravilhosamente tão iguais.